segunda-feira

Capítulo 1, Uma tragédia arrepiante, parte 1.


‎ Hoje, ‎Sábado, ‎13 de ‎junho‎ de ‎2009, ás 00h36min estava de plantão. Ouvi alguns jovens passarem pela rua, a que eu por coincidência trabalho, Simão Pablino. Muitas gargalhadas e risos me despertaram a atenção, sai do meu posto de vigia e fui à rua observar o grupinho de adolescente. Quando cheguei, tarde demais. Aconteceu a tragédia.

Sábado, 13 de junho de 2009, ás 14h30min.
Mal cheguei ao trabalho e vem o Stefin atrás de mim:
- Luan, que aconteceu ontem – um rapaz jovem, 26 anos, alto e cabelos castanhos repartidos ao meio.
- Ah, qual é cara, mal cheguei e já vem me infernizar – não estava para especulações aquele dia, Stefin era assim, sempre queria explicações, era aquela pessoa importuna, nos momentos errados teimava em aparecer.
- Não faz isso com seu amigo, me conta sobre ontem cara – pediu, fazendo cara de chorão.
- Você já sabe pra que quer ouvir de novo? – eu ainda fui perguntar!
- Mas é que você que viu acontecer, e não o chefe – tentou me convencer.
- Cara tive um noite estressante, corrida, muitas investigações, atender um bando de adolescentes ferrados na pinga, ligar pra uma família preocupada, depois ouvir a família, e ter que ver uma garota de 16 anos ser atropelada, presenciar seu cérebro sair de sua cabeça como se espremesse uma espinha inflamada. Você quer que eu conte os detalhes ainda?! – tinha que acabar com aquilo e se não desse esse breve resumo ele com certeza iria à minha casa infernizar.
- Por que isso nunca acontece comigo, só com os outros, eu tenho que ficar preenchendo fichas criminais e nada de diferente me acontece – sério, é muita doideira para uma pessoa só.
- Cara você é louco, demente ou coisa parecida? Você acha legal ver uma pessoa ser atropelada, se você quiser trocar de sorte comigo eu aceito – estava disposto mesmo, aquele acidente me deixara bem abalado.
- Se desse... – abaixou a cabeça.
- Tchau, vou pra casa descansar um pouco, preciso de um repouso bem reforçado – disse saindo rápido de lá, não agüentaria nem mais um segundo ouvindo as lamentações desconexas de Stefin.


- Ô de casa, cheguei – gritei em busca de resposta. Andei procurando todo mundo. Como não achei ninguém, fui ver se tinha alguma coisa na geladeira. Por sorte tinha algumas salsichas, e no balcão do armário tinha dois pães franceses. Fiz uma gororoba no fogão e sentei-me à mesa para comer. Logo ouvi o carro de Hérmia a chegar. Estava morrendo de saudade, e ela era quem eu mais queria ver naquele momento.

Abriu-se a porta e adentrou Hérmia, uma linda mulher, de pele mulata e olhos castanhos claros, cabelos afros seguros por uma tiara, vestido florido que era sua marca, silhuetas super definidas e... Paramos por aqui, não vou fazer tanto marketing.
- Oi querido, cheguei. O trânsito ta um horror em Maltês, ali na Avenida Mulin, fiquei 2 horas quase parada, andar metros de carro está difícil – ela estava exausta, trazia consigo a sacola do mercado, ela odiava aquelas de plásticos, Hérmia sempre gostou de ajudar o meio ambiente e tudo que tivesse relação com esse assunto lhe encantava.
- Nossa você não sabe como eu queria te ver – fui ao seu encontro, dei-lhe um beijo.
- Que aconteceu amor? – ela já fez cara ruim, sempre quando dizia essa frase ela se preparava para mais uma estranha história.
- Uma história bem longa... – gesticulei com as mãos.
- Então conta essa história tão longa – incentivou ela.
- Hum... Depois que eu comer aqui – sentei para terminar meu lanche.
- Está bem. Vou guardar então essas compras – e foi arrumando o que estava na sacola.
Depois que eu comi todo o "café da tarde", se pode se chamar aquilo de café da tarde... Voltando, eu chamei Hérmia no sofá e contei a ela:
- Bom, eu estava sentado lá na delegacia, de plantão, e ouço um grupinho de jovem passar na rua, dando risada, e fazendo muito barulho. Deixou-me intrigado e irritado aquela gritaria, as tantas horas da noite, fui em direção a eles, quando me passa uma picape azul, parece que saiu do nada, de tão alta que estava à velocidade da caminhonete – ela me fitava e ouvia atentamente – mas uma jovem, alta e magra, de dezesseis anos foi atropelada por essa picape, uma coisa muito horrível, e eu presenciei um cérebro saindo da cabeça de uma pessoa...
- Ui... Para... Está bem. Não quero mais saber mor! – Hérmia fez caras e bocas, já estava angustiada se via.
- Espera – ainda tinha mais um tanto – e quando liguei pra família da garota, não sabia como falar, pra ajudar foi a mãe que atendeu, ela falava coisas desconexas, um palavreado estranho, perguntei se era a mãe da Rúbia, ela me respondeu em um murmúrio afirmativo, falei que sua filha tinha sofrido um gravíssimo acidente. Ouve um baque, como se o telefone tivesse caído no chão.
"Logo depois recebo uma ligação no meu celular, de seu pai, pelo jeito devem ter decodificador em casa. Perguntou mais calma onde sua filha se encontrava, pra ele fui sincero e falei que estava no IML. Disse que se desejasse mais informações ele deveria ir até a delegacia e o foi o que ele fez, junto com o namorado dela que presenciou o acidente, os olhos úmidos e amedrontados, ele se mostrava bem abalado, ao contrário do pai que estava sóbrio, quase que sem sinais de sofrimento. Passei pra eles o número da placa do veículo, e contei ao pai como aconteceu, porque eu sabia que o namorado não ia contar nem metade do que houve, por ser doloroso. Aí, depois de esclarecida à questão, vim pra cá ”.
- Que dia duro – alisou meu rosto, aqueles dedos finos e palma macia me deixavam tranqüilo.
- Será que mereço um beijo? – fiz cara de esperançoso.
- Sim, merece todos... Hein gostou da camisa dos dias dos namorados? – ela perguntou animada.
- Amor! Esqueci de comprar seu presente – essa profissão me fazia esquecer da minhas obrigações em casa.
- A deixa querido, você teve um dia estressante, depois nós vemos isso – tentou concluir ela em um tom nada convincente de acomodação.
- Depois ano que vem? Não! Já volto – fui ao porta chaves pegar a chave do meu carro.
- Amor tem muito trânsito essa hora – mais uma vez tentou me persuadir naquele tom.
- Já venho. Não se preocupa... – joguei um beijo pra ela.
Fui ao shopping, e não sabia o que levar. Comprei um relógio, mas na vinda, encontrei uma picape azul, igualzinha aquela da noite. Estava estacionada na frente do mercado Lindóia. Primeiro desci do carro a uma distancia de uns 100 metros e fui ver se era. Não tinha ninguém dentro. Dei uma olhada na placa, não era. Curioso que sou, me aproximei do veículo, me agachei e forcei a placa, parecia original, reparando de perto me pareceu ser mais escura do que a de madrugada, todavia acabei anotando o número da placa também, tinha que verificar isso mais com calma.
Natasha estava lá na frente da casa, brincando com a bola, me viu e saiu correndo gritando:
- “Papai"!
- Oi meu amor, tudo bem linda? – peguei a no colo, estava grande e pesada, seis anos que se passaram voando, ela se parecia muito com a mãe, o rosto, cabelo a cor, menos o jeito que era mais semelhante ao meu.
- Ahã. Vamos brincar? – perguntou com aqueles olhos brilhando.
- Depois linda, papai vai conversar com a mamãe. Seu irmão não veio ainda? – queria muito conversar com ele.
- Não, deve ta na escola – respondeu ela.
- Ta! – conclui entrando para dentro.
Nessa hora passou uns pensamentos na minha cabeça, meio que imaginação, intimidade.
Hérmia, na beira da pia descascava batatas. Para fazer surpresa, fui de mansinho, a surpreendi por trás e lhe mostrei o embrulho.
- Ai que susto Luan! – esbravejou.
- Abra e vê se você gosta – entreguei o presente.
- Meu DEUS, que lindo! – exclamou Hérmia, ao ver aquele relógio com pedras que imitavam diamantes e a cor dourada devido ao banho de ouro. Não era uma pessoa rica, mas eu e minha família gozávamos de uma vida estável, não tínhamos muito luxo, porém tudo que tínhamos era luxuoso, paradoxo da classe média.
- Eu sabia que ia gostar – me gabei.
- É lindo, eu amei, obrigado amor – ela ia me dar um beijo, mas Isaque chegou bem na hora, tanto eu quanto ela gostávamos de ser discretos na frente dos filhos.
- Isaque quero conversar com você – expus pra ele.
- To ocupado pai, depois – respondeu subindo as escadas.
- Tem que ser agora – ordenei.
- DEPOIS! – gritou Isaque zangado.
- AGORA! – exclamei com autoridade.
- Está bem, que você quer?! – concordou comigo de má vontade.
- Vamos até a sala – apontei-lhe o sofá.
Hérmia ficou curiosa e perguntou.
- Ih, o que é tão importante? – investigou.
- Ah nada de mais, coisinha boba – satisfiz ela.
Fomos até a sala e tentei ser objetivo no que queria falar.
- Isaque, onde você estava? A aula acabou a uma hora atrás!
- Eu estou fazendo reforço de matemática pai, se não acredita pergunte a professora –respondeu bruscamente.
- Sei! Cíntia? – indaguei mais uma vez objetivo.
- Como sabe?! – Isaque estava surpreso por eu saber de quem se tratava.
- Ora, porque o susto? Você deixou seu caderno aí jogado, o abri e vi o nome dela lá – ele olhou incrédulo pra mim, era muito organizado para deixar as coisas jogadas, contudo não disse nada.
- Sei, e o que tem? – estava entediado.
- Nada, não disse nada. Apenas disse que vi, e vi o nome da professora oras – não queria que se levantasse suspeitas da minha desconfiança.
- Ta, então eu acho que já tirei suas dúvidas – disse ele levantando do assento.
- Acho que sim, se cuida rapaz – abri meu olho com o indicador em um gesto característico de atenção.
- To liberado policial? – debochou.
- Por ora – conclui, e ele desembestado subiu as escadas.
E assim correu o dia, mas algo não estava certo!

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